quarta-feira, 4 de novembro de 2009

do blog ADORÁVEL PSICOSE;

Não faço análise. Até a presente data, nenhum terapeuta foi capaz de me segurar. Sou uma garota difícil.
Em compensação, escrevo este blog. Aqui, conto com terapeutas anônimos, de todas as partes e que seguem diferentes linhas psicanalíticas. É por isso que eu deixo aí embaixo um link chamado "Diagnósticos". É a minha forma de descobrir o que os outros psicóticos pensam das minhas psicoses.
Pois bem. Outro dia tive um daqueles primeiros encontros bem típicos. Cinema e pizza. Seria ótimo, não fosse pela dor de cabeça sobre-humana que se apossou de mim durante o filme, feito um belzebu dos infernos.
Na saída, apesar daquela dor horrível praticamente sussurrar no meu ouvido: "se mata, se mata, dá um tiro na sua testa agora", eu aceitei ir comer pizza. Cheguei a mencionar que estava sentindo um leve incômodo na cabeça e procurei alguma farmácia nas proximidades. Não encontrei.
Depois de comer, creio que acabei alimentando a entidade monstruosa que habitava meu cérebro, porque a dor foi se tornando cada vez mais forte, até chegar no limite do insuportável. A ponto de eu não conseguir mais desenvolver nenhum raciocínio. Eu só olhava fixamente para aquela faca repousada sobre a mesa e pensava: "E se eu fizer furos na minha cabeça, será que ela vai embora?".
Eu queria ser honesta, queria dizer a ele exatamente o que eu estava sentindo naquele momento, que era algo bem parecido com "AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH!!!!". Mas não podia. Eu tinha disfarçado por muito tempo, não dava para voltar atrás. Ia parecer que eu tinha inventado uma dor de cabeça do nada. E logo dor de cabeça, a desculpa mais clichê que existe. Não. Eu tinha que levar aquilo até o fim.
Voltando para casa, não havia mais como disfarçar. Eu estava começando a ficar autista. Então ele perguntou: "Você está com muita dor, né?". Eu só fiz que sim, com uma cara de tacho, de criança pega fazendo besteira. E eu tinha mesmo feito besteira.
O caso da dor de cabeça foi um exemplo simbólico, claro e inegável de que eu realmente preciso rever meu modus operandi. Eu sempre faço isso. Sempre escondo o que estou sentindo e me convenço de que está tudo bem, esperando que as coisas melhorem. Mas as coisas não vão melhorar sozinhas, do nada.
Para sua dor de cabeça passar, assim como qualquer outra coisa chata na vida, você precisa tomar uma atitude. E a primeira delas é admitir que algo está incomodando. As pessoas não são adivinhas. Quanto mais você se esforça para mostrar que está tudo bem, mais longe você fica de encontrar o remédio.
Nunca nenhum terapeuta conseguiu colocar essa questão de maneira tão evidente. Tô achando que o blog é mais jogo...

Natalia Klein
(http://adoravelpsicose.blogspot.com/)



Eu li o texto nesse blog iradíssimo hoje e o post me pôs a pensar (como se pra isso fosse preciso muito, né? Enfim...). Eu concordo e discordo. É possível, sim. :D Sou muito a favor do 'say what you need to say', porém isso uma faca de dois gumes (é assim que se escreve?). Quando a gente pensa em falar tudo o que pensa, o que acha, o que sente, na maioria das vezes não é apenas para eliminar aquela sensação de peso na consciência, nem falar só por falar, nem muito menos se colar colou; a gente deseja mais: queremos compreensão, aceitação e que, a partir daquele momento, tudo ocorra de acordo com o que foi dito nessa conversa unilateral. E é exatamente por isso que devemos SIM peneirar o que falamos. Palavras edificam, mas também destroem. E nem todo mundo, mas nem todo mundo MEEEESMO, pensa e age da mesma maneira. Como cobrar isso de alguém? Dizer o que incomoda, falar dos seus medos, das suas expectativas sem receio é uma atitude e tanto. No entanto, não espere mesmo nada mais do que um: 'certo, eu entendi, essa é você!'. Se vier mais do que isso, jóia. Se não, sinta-se orgulhosa (ou orgulhoso, né?) por ter coragem de dizer o que pensa, o que sente sem esquecer que 'cada um é um universo', já dizia Raul. Aprender a lidar com as coisas que não podem ser exatamente do jeito que queremos é um hábito dificílimo. Talvez se você pensar que ninguém está aqui para satisfazer suas necessidades pessoais, fique um pouquinho mais entendível.

:)